Notas sobre o lançamento do Cavalry
Com o lançamento da versão beta do Cavalry, é importante relembrar a relevância de um artigo do Lev Manovich intitulado: “Importação/Exportação: Fluxo de Trabalho no Design e estética contemporânea”, que pode ser lido no livro “Teoria do Design Gráfico” publicado aqui no Brasil pela Ubu. No artigo, somos levados a refletir sobre a importância de duas funções encontradas nas maiorias dos softwares de criação de mídia: Importação e Exportação, considerando que:
“Em geral, um designer cria elementos em um programa, exporta-os para outro programa, acrescenta elementos criados em um terceiro programa, e assim por diante… A condição essencial que viabiliza essa nova lógica do design e a estética resultante é a compatibilidade entre os arquivos gerados pelos diversos programas.” (MANOVICH, Lev. Import/Export: Design Workflow and Contemporary Aesthetics, mar. 2008 [www.manovich.net], In: ARMSTRONG, Helen. Teoria do Design Gráfico, São Paulo, 2019, p.167).
Acompanhando as discussões nas redes sociais é possível notar indícios de que estamos nos preocupando muito com as funções desse novo software, sua precificação, o futuro do After Effects, as diferenças entre lógica sequencial e procedural; no entanto estamos esquecendo de algo talvez muito mais importante: a inserção do Cavalry em nosso fluxo de trabalho.
É comum utilizarmos softwares como Illustrator, Photoshop, Cinema 4D, Premiere, Toon Boom, Nuke, Animate e After Efftecs em um único projeto, e mesmo assim conseguirmos uma boa interação entres todos, principalmente entre o pacote Adobe. Se pegarmos os softwares de 3D como exemplo, veremos que para certas funções é melhor utilizar o Maya, para outras o 3DS Max, o Cinema 4D, e assim por diante. Então por que estamos rivalizando tanto o After Effects e o Cavalry? Lembrando que After Effects e Nuke coexistem e são alternados no mercado dependendo da demanda, inclusive acabam sendo utilizados em conjunto, e é possível que o mesmo aconteça entre After e Cavalry.
O que devemos fazer é experimentar esse novo software, assim entenderemos quando utilizá-lo e como que ele pode interagir com o After Effects; devemos, antes de tudo, entender os seus processos internos, pois o que temos hoje, segundo Manovich, não se resume a produção multimídia e sim a Metamídia, ou seja:
“A remixagem dos métodos e técnicas de trabalho de mídias distintas no interior de um mesmo projeto” (MANOVICH, Lev. Import/Export: Design Workflow and Contemporary Aesthetics, mar. 2008 [www.manovich.net], In: ARMSTRONG, Helen. Teoria do Design Gráfico, São Paulo, 2019, p.168).
Assim, estamos falando de fluxos de trabalho mais livres, que independem de uma única ferramenta, que são na verdade resultados do uso de vários softwares que podem ser alternados ou utilizados em conjunto. O After Effects continuará forte no mercado e o Cavalry veio para agregar e enriquecer os nossos processos.